terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nietzsche - Além do Bem e do Mal 02


2

“Como uma coisa poderia nascer de seu contrário? Por exemplo, a verdade do erro? Ou a vontade do verdadeiro da vontade do erro? O ato desinteressado do egoísta? Ou como a contemplação pura e radiante do sábio nasceria da cobiça? Semelhantes origens são impossíveis; seria loucura pensar nisso, até pior. As coisas de mais alto valor devem ter outra origem, uma origem que lhes seja peculiar – não poderiam ter saído desse mundo passageiro, falaz, ilusório, desse labirinto de erros e de desejos! É, pelo contrário, no seio do ser, no imutável, na divindade oculta, na “coisa em si” que se deve encontrar sua razão de ser e não em qualquer outro lugar!”

Essa forma de apreciar constitui o preconceito típico com o qual são realmente reconhecidos os metafísicos de todos os tempos. Essas avaliações se encontram na base de todos os seus procedimentos lógicos; é a partir dessa “crença” que se esforçam para atingir seu “saber”, para alcançar alguma coisa que , finalmente, é solenemente proclamada “verdade”. A crença fundamental dos metafísicos é a crença na oposição dos valores. Os mais instruidos dentre eles jamais pensaram em levantar dúvidas desde o início, quando isso teria sido mais necessário: ainda que tivessem feito voto de “omnibus dubitandum” (Expressão latina que quer dizer: deve-se duvidar de tudo [N. do T.]). Pode se perguntar, com efeito, primeiramente se de uma forma geral, existem contrários e, em segundo lugar, se as avaliações e as oposições que o povo criou para criar os valores, aos quais a seguir os metafísicos colocaram sua marca, não são talvez avaliações superficiais, perspectivas momentâneas, projetadas, dir-se-ia, do fundo de um canto, talvez de baixo para cima, perspectivas de rã, de algum modo, para empregar uma expressão familiar aos pintores? Qualquer que seja o valor que se atribua ao verdadeiro, ao verídico, ao desinteressado, poderia muito bem acontecer que se devesse atribuir à aparência, à vontade de enganar, ao egoísmo e à cobiça, um valor superior e mais fundamental para toda a vida. Além, do mais, seria ainda possível que aquilo que constitui o valor dessas coisas boas e reverenciadas consistisse precisamente em que elas são aparentadas, ligadas e emaranhadas de uma forma insidiosa e talvez até mesmo idênticas às coisas más, aparentemente contrárias. Talvez! – mas quem, portanto, se ocuparia de um tão perigoso “talvez”! É preciso esperar, para isso, a chegada de uma nova espécie de filósofos, daqueles que são animados de um gosto diferente, qualquer que seja, de um gosto e de uma inclinação que difeririam totalmente daqueles que estiverem em curso até aqui – filósofos de um perigoso “talvez”, sob todos os aspectos. E para falar seriamente: já os vejo chegando, esses novos filósfos.

---

Falaz: adj. Enganador, ardiloso, fraudulento, ilusório: argumento falaz.

No primeiro parágrafo Nietzsche começa se perguntando a origens das, como eu entendo, vontades. Perguntando-se se uma vontade pode ter sua origem em seu contrário. Mas diz logo em seguida não é isso o que acontece, que essas vontades existem por si só.

Antes de começar o segundo parágrafo, mais um dados que considero útil.

Metafísica: em resumo, a Metafísica trata de problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres. Especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser. Muitas vezes ela é vista como parte da Filosofia, outras, se confunde com ela. (para mais detalhes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Metafísica, é claro)

Perspectiva de rã é uma técnica de desenho ou fotografia, por exemplo: http://fotot.jarvenpaa.net/en/0000000109 .

Vejamos, o que a é colocado no começo do segundo parágrafo é que os metafísicos, apesar de terem se colocado a obrigação de duvidar de tudo, não questionam esse princípio de contrários, usam-no como uma regra. Mas coloca logo em seguida a questão, se essas observações foram feitas com calma, se esta definição de contrário talvez tenha surgido de uma epifania de um grego sentado sobre uma pedra, que em certo momento gritou: aha! É isso, e ponto.

E de fato, no meu ver, como Nietzsche continua, que os valores de cada vontade possam ser iguais, e não contrários, que simplesmente os tratamos como diferentes por suas “aparência”.

E o parágrafo termina com um quase desejo do surgimento de novos filósofos, que não aceitam efetivamente nada como certo ou fundamental. Nietzsche acredita que eles estão aparecendo, eu não sou um estudioso dessa área, só um curioso, portanto, até aqui não ouso supor quem possam ser esses filósofos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário