domingo, 27 de junho de 2010

Nietszche - Além do Bem e do Mal 6

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Pouco a poço me dei conta do que foi até agora toda grande filosofia: a confissão de seu autor, uma espécie de memórias involuntárias e insensíveis; percebi que as intenções morais (ou imorais) formavam, em toda filosofia, o verdadeiro germe vital de onde nasce cada vez a planta inteira. Se quisermos saber como se formaram as afirmações metafísicas mais transcendentes de um filósofo – faríamos bem, e isso seria até mesmo inteligente, perguntar-nos a que moral quis chegar com isso. Desse ponto de vista, não acredito que o “instinto do conhecimento” seja o pai da filosofia, mas antes, que é outro instinto que se serviu, aí também, do conhecimento (e do desconhecimento) como de um simples instrumento. Quem quer que examine os instintos fundamentos do homem, com a intenção de saber até que ponto os filósofos se divertiram, aqui sobretudo, com seu jogo de gênios inspiradores (demônios ou duendes talvez), haverá de reconhecer que todos esses instintos algum dia já fizeram filosofia – e que o maior desejo de cada um deles seria de se apresentar como fim único da existência, tendo qualidades para dominar os outros instintos. De fato, todo instinto é ávido de dominação: e como tal aspira a filosofar. Certamente, nos sábios, nos verdadeiros espíritos científicos, pode ocorrer que seja de outra forma – que isso seja “melhor”, se quisermos. Talvez haja neles verdadeiramente alguma coisa como o instinto de conhecimentos, uma pequena mecânica autônoma que, bem montada, funcione a contento, sem que os outros instintos do sábio se encontram geralmente em outro lugar, por exemplo, na família, nos negócios ou na política; é até mesmo indiferente que sua pequena máquina seja colocada em tal ou qual ponto da ciência e que o jovem trabalhador do “futuro” se converta num bom filólogo ou talvez num bom conhecedor de cogumelos ou ainda químico – pouco importa para distingui-lo, se se torne isso ou aquilo. Pelo contrário, no filósofo, nada há de impessoal; e particularmente sua moral demonstra, de uma forma decisiva e absoluta, o que é – isto é, em que relação hierárquica se encontram os instintos mais íntimos de sua natureza.

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O que Nietzsche coloca aqui novamente é conceito de que o filósofo ao formar sua filosofia coloca seus ideais nela, seus instintos, tenta mostrar que sua idéia está acima do bem e do mal.

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